quinta-feira, 3 de abril de 2014

Operações Psicológicas, Crime Organizado e Manipulação das Massas - Parte 2

Leia Parte 1
opera11 manipulaAs Operações Psicológicas e a Manipulação das Massas — Um Guia Básico Sobre a Propaganda Global - Autor: Carl Teichrib, Forcing Change, Edição 2, Volume 1."O cidadão deve ser moldado para se adequar à forma de governo em que vive." — Aristóteles, Política, Livro 8. ."Nunca antes na história humana tantos tiveram um acesso tão fácil a tanto poder potencial para tantos propósitos diferentes." — In Athena's Camp: Preparing for Conflict in the Information Age. "Operações psicológicas" não é uma expressão tipicamente encontrada no vocabulário do público geral. Essa expressão é um termo militar que se refere a uma operação de informações destinada especificamente a mudar o comportamento e as atitudes de um grupo-alvo. Em termos militares, esse grupo é formado por combatentes inimigos e/ou a população geral de um país inimigo.
Hoje, vivemos em uma época em que as informações são consideradas centrais para a manutenção do poder político e econômico, o que coloca a abrangência das operações psicológicas muito além das aplicações exclusivamente militares.
Embora isto não seja fundamentalmente novidade — as informações e sua alavancagem sempre foram instrumentos de poder — a maioria das pessoas não tem uma compreensão da importância da manipulação e da capacidade de persuasão das informações.
Na forma mais ampla, as operações psicológicas estão intimamente vinculadas à sua prima: a propaganda das informações. De fato, a distinção entre as duas é tênue e na literatura (incluindo os documentos militares) essas duas ciências estão intimamente interligadas.
Peter Kenez, autor de The Birth of the Propaganda State, escreveu:
"Para discutir a questão de forma sensata, precisamos abandonar a esperança de encontrar uma definição da propaganda que seja precisa, que cubra todos os atos da propaganda e somente propaganda, e que seja utilizável, independente do tempo e do espaço. Em vez disso, precisamos aceitar a definição mais ampla possível: a propaganda não é nada mais do que a tentativa de transmitir valores sociais e políticos na esperança de afetar a mente e as emoções das pessoas e, desse modo, modificar o comportamento." 
Um antigo documento das forças armadas canadenses sobre operações psicológicas, intitulado Psychological Operations — First Draft (Operações Psicológicas — Primeiro Rascunho), postula uma posição similar:
"As operações psicológicas (chamadas no jargão militar de PsyOps, ou também de OPs) são um termo genérico usado para cobrir todos os aspectos das atividades psicológicas e é definido como: atividades psicológicas planejadas em tempos de paz e de guerra, direcionadas contra audiências inimigas, amigas ou neutras, de modo a influenciar as atitudes e o comportamento que afetam o alcance de objetivos políticos e militares." [4] [itálicos adicionados]. Fazendo uma ponte entre os dois conceitos de informações, esse documento canadense diz explicitamente: "A propaganda é um instrumento básico das operações psicológicas." 
Ao ressaltar o valor da propaganda como o instrumento principal das operações psicológicas, é importante considerar o papel e o uso da "mensagem". Uma seção extraída do documento militar canadense referido anteriormente diz: "A mensagem de propaganda é uma comunicação com o propósito de produzir uma ação e uma atitude. Antes de poder realizar seu propósito, ela precisa ser ouvida pelo receptor designado (o alvo). Em resumo, a mensagem precisa ser recebida, compreendida, aceita como verdadeira, oferecer uma solução e produzir um resultado desejado."
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Com base em uma política, nas informações coletadas pelos serviços de Inteligência, um alvo, temas, e uma avaliação dos resultados desejados, o propagandista compõe sua mensagem. Ele precisa construir e transmitir sua mensagem no tempo correto para que, mesmo em competição com muitos outros materiais que estão sendo apresentados ao alvo, a mensagem seja ouvida. O alvo precisa compreender a mensagem e interpretá-la da forma desejada pelo propagandista.
Uma mensagem de propaganda precisa despertar ou estimular necessidades. Ela precisa provocar uma ação ou produzir a atitude desejada pelo propagandista. Isto requer que a mensagem diga ao alvo como satisfazer suas necessidades — seguindo o curso de ação desejado pelo propagandista. Isto, por sua vez, requer que as ações (incentivadas abertamente, ou de forma implícita) sejam apropriadas e importantes para o alvo. De modo a obter a atenção ou a atitude desejada, a mensagem precisa, na opinião do alvo, oferecer a melhor solução (ou a única solução lógica) para a solução do problema enfocado ou em atender às necessidades do alvo.
Essencialmente, o propagandista precisa tomar todas as medidas necessárias para garantir que a ação que ele deseja seja bem-sucedida e que a ação que ele não deseja tenha a mínima oportunidade de chamar a atenção do alvo, isto é, que ela falhará. [6].
Isto é significativo, pois demonstra a moldagem intencional de um grupo (uma sociedade) por meio da disseminação de informações específicas, a mensagem, para atingir determinados objetivos no alvo. Além disso, esse relacionamento mensagem-alvo normalmente não é aparente para a audiência. A vagueza situacional não está sempre presente, mas tipicamente o grupo-alvo desconhece as influências externas que estão em operação, moldando as opiniões, crenças, valores e atitudes.

Operações Psicológicas e Influência Interna

Uma admissão interessante dos alvos das operações psicológicas militares pode ser encontrada em uma publicação produzida pelo Programa de Pesquisa de Comando e Controle (CCRP), que opera vinculado ao gabinete do Assistente do Secretário de Defesa dos EUA. Ao discutir a importância do suporte público para as operações militares, especificamente após a Batalha de Mogadishu, em 1993, em que 18 militares americanos morreram, os autores do relatório dizem:
"Após a Somália, 'os corações e mentes' a serem conquistados ao montarmos essas operações não são apenas aqueles no país em questão — o alvo tradicional das operações psicológicas. Eles agora incluem, talvez até de forma predominante, os corações e mentes do povo e do Congresso americano."
Isto é tremendo. Como Peter Kenes nos lembra: "... a propaganda frequentemente significa dizer menos do que a verdade, enganar a população e mentir..." [8]. Embora o exemplo acima possa ou não ter um vínculo direto com mentir ou "enganar a população", ele ilustra o aspecto da política pública de "persuasão", colocando em jogo questões de ética e de governança.
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São inúmeras as questões éticas relacionadas com a persuasão do público. Em um relatório publicado em 2005, o Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA examinou ações das agências do Poder Executivo e descobriu diversos exemplos de atividades com informações controversas. Agências tão diversas quanto a Receita Federal, o Departamento de Política e Controle de Narcóticos, a Previdência Social, o Departamento da Educação, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos e a Agência de Proteção Ambiental foram todos apontados por empregarem campanhas com informações altamente questionáveis. Muitas dessas campanhas tinham o objetivo de promover as posições do governo.
Entretanto, no caso da Comissão Federal das Comunicações, descobriu-se que esse órgão estava especificamente promovendo os aparelhos de televisão digital — junto com grandes interesses empresariais que se beneficiariam com as vendas desses aparelhos. [9].
Embora as vendas de televisores seja algo trivial em termos de atividades de propaganda, isto ilustra o quão aceita e firmemente estabelecida a manipulação das informações se tornou. Infelizmente, isto também levanta a validade da desconfiança geral da população no governo.
Reconhecendo o dilema do efeito bumerangue da enganação como um instrumento da política, especialmente no que se refere às preocupações maiores, um relatório do Colégio de Guerra do Exército dos EUA observou:
"Como os governos praticaram o engano envolvendo questões tão importantes quanto a segurança nacional, é difícil para muitos na mídia e no público em geral, desconsiderarem totalmente a possibilidade que os anúncios do governo possam ser desinformação... Qualquer pessoa envolvida em operações de enganação, ofensiva ou defensivamente, deve estar ciente das questões de credibilidade inerentes neste assunto. Frequentemente, há mais em risco do que uma vantagem política ou militar temporária." 
Há muita coisa em risco, incluindo a credibilidade de longo prazo das estruturas civis básicas. Isto é inerentemente verdadeiro com relação à propaganda que foi inicialmente colocada em ação para inverter os valores sociais e os comportamentos internos porque, uma vez que o mecanismo tenha se estabelecido no fulcro da vida civil, sua influência pode persistir por muito tempo após o programa oficial terminar. Em outras palavras, um efeito bola de neve pode continuar até que a má informação seja rebatida por vozes mais sensatas, até que ela se autodestrua sob a inércia de suas próprias enganações, ou até que o resultado original da operação psicológica — ou uma variação dele — seja alcançado.
Infelizmente, o alcance da propaganda frequentemente infecta todos os níveis da sociedade, com consequências na integridade civil de longo prazo. Essa corrosão na credibilidade pode, por sua vez, afetar de forma adversa o sistema educacional, os serviços da imprensa e da mídia, as funções policiais e militares, os papéis das igrejas e dos seminários e vários ofícios de autoridade pública. Além disso, todas essas instituições não somente têm o potencial de serem usadas via operações psicológicas, mas em casos particulares podem na verdade utilizar a propaganda como um modo de fazerem avançar seus próprios planos.
[Nota: A Forcing Change procurará documentar esta realidade; em artigos futuros destacaremos exemplos específicos de planos.]
Se a propaganda tem um ângulo positivo, é durante os tempos de guerra real em que as operações psicológicas são usadas diretamente para combater países inimigos, incluindo táticas enganosas no campo de batalha. [11]. Entretanto, essa forma de enganação está rigidamente conectada com uma luta imediata de vida ou morte. É o uso da propaganda como um instrumento de transformação interna que é muito mais preocupante.

O Modelo Soviético

A partir de uma perspectiva política interna, três grandes potências no século 20 fizeram um tremendo esforço para moldar suas sociedades nacionais por meio da manipulação das informações. A União Soviética, a Alemanha Nazista e a China Comunista estabeleceram cada uma delas agências específicas para criar e disseminar propaganda. É aqui que podemos começar a compreender verdadeiramente o significado das operações psicológicas: a sutil e sistemática corrosão dos valores centrais.
O professor David E. Powell, autor de Antireligious Propaganda in the Soviet Union: A Study of Mass Persuasion (Propaganda Antirreligiosa: Um Estudo da Persuasão das Massas), revelou o cerne da estrutura transformacional soviética:
"O Partido tentou destruir os padrões tradicionais de autoridade e de relacionamentos que considerava inadequados para o mundo moderno e desenvolver no lugar deles um novo conjunto de devoções. O Partido decidiu moldar os valores de todo um povo por meio de um programa gigantesco de educação e doutrinação... Ele tentou modificar a visão dos adultos e inculcar nos jovens, que têm menos preconceitos e atitudes menos arraigadas, as visões que ele considerava serem as corretas." 
"A 'socialização política' é o processo pelo qual as pessoas adquirem seus padrões e suas crenças políticas. Ela envolve uma ampla variedade de instituições e indivíduos, desde os pais e professores até a imprensa, os tribunais e as forças armadas."
"Por meio do contato com esses agentes socializadores, as pessoas modificam ou descartam os antigos valores, assimilam novos valores, ou reforçam suas noções pré-existentes." 
"Em seu esforço de reestruturar a cultura política e transformar um povo religioso em um povo ateísta, os líderes soviéticos tentaram socializar e ressocializar toda a população."
Se você está fazendo a si mesmo a pergunta: "Como isto se encaixa no mundo atual?" — está fazendo a pergunta errada. A questão real é: existem forças em operação no nosso atual sistema nacional e global que estão tentando "moldar os valores de toda uma população por meio de um programa gigantesco de educação e doutrinação..."?
O Clube de Roma, uma organização influente de indivíduos proeminentes de todo o mundo, já admitiu em 1976 que faz avançar um programa de mudança global, principalmente por meio de agências especializadas inseridas dentro da comunidade internacional.
"No nível mais alto das questões mundiais, instituições internacionais precisam formar os principais agentes da transformação planejada.
Os esforços a serem feitos pelas instituições nos níveis mais altos podem ser vistos como 'meios' que podem ser mobilizados para alcançar os fins desejados. Isto implica que as instituições controlam diversos 'volantes' que podem ser usados para guiar a mudança por meio de esforços de indivíduos e instituições menores. Todavia, o controle que as instituições podem exercer não é ilimitado, mas bem determinado pela estrutura de poder em que elas operam."
"No caso das instituições poderosas, os meios à disposição estão frequentemente organizados em políticas. Como tais, as políticas podem se referenciar à operação atual da ordem socioeconômica ou à ação destinada a executar uma ação planejada na ordem existente. Portanto, elas podem ser direcionadas para reforçar ou transformar o status quo internacional.".
Isto toca na raiz: a transformação global gerenciada e se encaixa com a grande visão de Mikhail Gorbachev. Como o ex-presidente da União Soviética escreveu no ano 2000: "Novas abordagens são necessárias, novas orientações em pensamento e ação. Precisamos fazer a transição para uma nova civilização global."
De modo a ver como a propaganda para uma "nova civilização" está sendo feita em nosso contexto moderno, precisamos analisar exemplos de transição. Existem muitos desses exemplos, porém as limitações de tempo e de espaço somente nos permitirão destacar rapidamente um caso em vista: o movimento ambientalista internacional como um agente para a reestruturação global.

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